MIME-Version: 1.0 Content-Type: multipart/related; boundary="----=_NextPart_01D9B67E.B15D0C20" Este documento es una página web de un solo archivo, también conocido como "archivo de almacenamiento web". Si está viendo este mensaje, su explorador o editor no admite archivos de almacenamiento web. Descargue un explorador que admita este tipo de archivos. ------=_NextPart_01D9B67E.B15D0C20 Content-Location: file:///C:/84FA8AF2/ART7_nawi_vol7_n2_v2.htm Content-Transfer-Encoding: quoted-printable Content-Type: text/html; charset="us-ascii"
Corpo potencial. Autoficção de um tornar-se o que se é1. Potential body=
. The autofiction of becoming.
Cuerpo potencial. Autoficción =
span>de un convertirse en lo que se es.
Este
ensaio se flexiona sobre certa noção de corpo, correlacionando-o com espaços de
educação,
como contingências em encontros improv&a=
acute;veis. Tal perspectiva afirma que a improvisação
é uma efetuação=
de
um corpo em estado de prontidão, com potencial para atualizar-se nos encontros. Trata-se<=
/span> da
atualizaç&=
atilde;o de
possíveis,=
ainda que, e sobretudo, imprevistos: de <=
span
style=3D'letter-spacing:-.3pt'>ações inesperadas, uma<=
span
style=3D'letter-spacing:-.35pt'> vez que se postula desviar
das condutas restauradas nos espaços em que se habita, sempre=
que estas possam diminuir nossa vitalidade.
Por
conseguinte, projetamos pensament=
os
sobre um certo Corpo Potencial, numa explora&cc=
edil;ão pela qual chegamos à proposição da autoficção como um tornar-se
o que se é, dado que consideramos, por uma via nietzschiana, o fundo trágico da existência.<=
span
style=3D'letter-spacing:-.1pt'> Com =
efeito, arealidade,=
como meio onde este corpo se constitui em autoexperimentação, passa a ser correlacionada com a ficção, na qual performamos.
Palavras
chave: Corpo; improviso; performance; pesq=
uisa; texto.
This articles discusses a specific notion of body in correlation with educational spaces, as contingencies in improbable encounters. Such perspective states that improvisation implies =
span>a bod=
y i=
n a
state of readiness, with a pot=
ential
to update itself upon encounters. For it postulates the need for
deviating from attitudes restored
within the living space whenever
they diminish our vitality, such perspective implies updating probable, but unforeseen, circumstances: unexpected actions. T=
hus,
considering the tragedy of existence from a Nietzschean perspective, =
this
study reflects upon a potential
body, reaching the proposition of the autofiction as a
becoming. As a medium where this body is constituted in self-experimentation, reality correl=
ates with fiction, in which we perform.
Keywords: Body; improvisation; performance; research; text.
<=
span
lang=3DPT style=3D'font-size:1.0pt;mso-bidi-font-size:8.5pt'>
1 O presente
trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Brasil
(CAPES), Código<=
span
style=3D'letter-spacing:-.15pt'> de Financiamento 001.
http://www.nawi.espol.edu.ec/ www.doi.org/10.37785/nw.v7n1.a7=
span>
This work is und=
er an
international license Creative<=
span
style=3D'letter-spacing:-.45pt'> Commons
Atribución-NoComercial <=
/span>4.0.
Este ensayo reflexiona sobre una determinada noción de cuerpo, correlacionándola c= on los espacios de educación, como contingencias en e= ncuentros improbables. Esta perspectiva afirma que la improvisación es una realización de un cuerpo en estado de prontitud, con potencial p= ara actualizarse en los encuentros. Se trata de la actualización de posibles, aunque, y sobre todo, imprevistos: de acciones inesperadas, una = span>vez que se postula desviarse de los comportamientos restaurados en los espacios en los que se habita, siempre que éstos puedan dism= inuir nuestra vitalidad. Por lo tanto, proyectamos pensamientos= sobre un = determinado = Cuerpo Potencial, = en una
exploración a trav&eac= ute;s de la cual llegamos a la propuesta de autoficción como un devenir de lo que se es, dado que consideramos, por una vía nietzscheana, el fondo trágico de la existencia.
En efecto,= la realidad, como medio en el que este cuerpo se constituye en autoexperimentación, se correlacion= a= c= on = l= a = f= icción,= e= n = l= a = q= ue = p= erformamos.
Palabras clave:
Cuerpo; improvisación;
perfor- mance;
investigación; texto.
Sumario: 1. Pensar a pesquisa sobre um corpo pela escrita: um exercício. 1.2. Notas
sobre corpos o grau
de potência=
span> e a chance do jugador. 3.1.
Proposição terceira: um
corpo que quer perseverar e nisso se compõe.
3.2. Proposição quarta: disposição aos encontros. 3.3. Proposição quinta:
desviar em direção aos possíveis pela via do improvável.
3.4. Proposição sexta: entre os estratos e=
o
devir, afirmar o jogo entre Apolo e Dionísio. 4. Primeiro paradoxo:
o ser inteiro e o que é possível fazer hoje? 5. Segundo parad=
oxo:
desviar da razão pela razão (e retornar a ela). 6.
Conclusão (tentativa de síntese): tornar-se o que se é
como autoficção e performance, um acordo discordante.
Como citar: Winck,=
D. (2023). Corpo potencial. Autoficção de um tornar-se o que se é.
Ñawi: arte diseño comunicación<=
/span>, Vol. 7, núm. 2, 125-138.
Investimos
nossa=
span> ação sobre a escrita num exercício de pensar o pensamento com o texto –tendo-o como um espaço de performance– na espreita de ficções eficazes. Trata-se de produzir imagens que intentam funcionar como interces=
soras
entre um “eu” e o mundo, como uma verdade potente enquanto criadora de
Uma
fantasia (ou pelo menos algo
que chamo
assim): uma volta de desejos,
de imagens,
que rondam,
que se buscam em nós, por vezes durante uma vida toda, e frequentemente só se cristalizam através de uma palavra. A
palavra, significante maior, induz da fantasia à sua
exploração. Sua exploração por diferentes bocad=
os
de saber =3D a pesquisa.
A fantasia se explora, assim, como uma mina a céu aberto.
Este texto, então, condiciona a possibilidade de uma
exploração, na forma de um ensaio, para extrair fragmentos da pesquisa e compor nossa ideia de um Corpo Potencial: trata-se de uma ficção
Passamos à= ; noção de performance, que aqui é tomada com Carlson (2010, 15), pois o “reconhecer que nossas vidas estão estruturadas de acordo com modos de comportamento repetidos e socialmente sancionados levanta a possibilidade de que qualquer atividade humana pode ser considerada como performance”; projetamos, assim, certos modos de um corpo existir, desviando de condutas que lhe diminuem a potência de agir, à espreita de bons encontros – com ênfase aos imprevistos –; é nesse sentido que suas ações ganham o status de performance, no sentido proposto por Carlson (2010, 15):
A diferença ent=
re
fazer e ‘performar’, de acordo com esse modo de pensar, parece
estar não na estrutura do
teatro versus vida real, mas numa atitude – podemos<=
span
lang=3DPT style=3D'font-size:7.5pt;mso-bidi-font-size:11.0pt;line-height:10=
2%;
color:#231F20;letter-spacing:-.1pt'> fazer ações sem pensar mas, quando pensamos sobre elas,=
isso introduz
uma consciência
Isto posto, significa afirmar que ao pensar acerca de um Corpo Potencial, estamos à espreita de nos constituirmos como tal corpo. Para tanto, afirmamos que a individuação de um texto se expressa numa correlação com o indivíduo que o escreve, sem domínio do segundo sobre o primeiro. Assim, tal narrativa, que constitui uma realidade, resulta da performance deste corpo que agencia o que pode, modulando de modo imprevisto um corpo do texto, com a linguagem em jogo. O corpo do autor, como escritor-narrador, então deriva de si mesmo, passando também por acessos intermitentes de individuação, o que trataremos no decorrer do texto com Simondon (2020).
Com efeito, o que aqui se apresenta como um personagem nesta espécie de palco-texto, como um CorPo (grafia doravante adotada para enunciar um Corpo Potencial), é ensaiado insistentemente, performado numa <= span style=3D'letter-spacing:-.3pt'>pesquisa-texto, na invençã= o de corpos possíveis em nossa superfície cotidiana e em espaços de educação, em contextos institucionais e não institucionais. Corpo em atenção dispersa (e treinada) em meio aos labirintos de uma vida à qual se dá sentido numa ficção – isto é, num certo modo de compreender a realidade. Considera-se, por conseguinte, com Deleuze (2002, = 25), um certo dinamismo:
Será dito bom
(ou livre, ou razoável, ou forte) aquele que se esforça,=
tanto quanto pode,
As ações e relações deste CorPo são assim projetadas = a partir da ideia de corpos (matéria) em jogo, em encontros da vida num jogar, dum corpo (animal humano) numa estrita relação pensamento-texto, e deste em retorno para a materialidade <= span style=3D'letter-spacing:-.3pt'>cotidiana da vida. Não é o caso, portanto, de um objetivo a ser buscado (mesmo que objetivado enquanto invenção de uma busca infindável), pois este corpo não se encontra em um estado definitivo, como se pudesse afirmar: “eis O Corpo Potencial!”, “tenho potência, logo, sou um Corpo Potencial!”; trata-se de um estado de latência, de criações incessantes, derivações em variações, para as quais a educação funciona co= mo uma zona de acontecimentos: espaço-tempo em jogo para a produção de encontros alegres e potencialização dos corpos, estes entendidos enquanto processo, eles mesmos num jogo, como matérias, corpos em encontros com corpos, corpos dentro de corpos, labirintos corporais; pois, “cada corpo, por menor que seja, contém um mundo” (Deleuze, 1991, 16).
Ora, pois, de certo modo, fomos jogados num mundo, e sobre esta condição nos restam duas posturas, conforme nos apresenta Flusser (2011, 55-56):= p>
Continuar caindo passivamente para dentro do mundo
das coisas
que nos
envolve e oprime, caindo em
direção à morte,
ou podemos virar-nos contra as nossas origens das
quais fomos jogados, transformando coisas
que
nos envolvem em instrumentos que testemunham nossa passagem.
Podemos, assim, projetar-nos. Por essa via as palavras são compreendidas como corpos no texto, que= span> significam o pensamento se realizando, tornando-se realidade no exercício de exploração pela escrita: o pensar é um exercício experimental. Doravante, passaremos a direcionar o texto para especular acerca<= span style=3D'letter-spacing:2.0pt'> do CorPo em suas ações na existência: o que este, e como este, produz,<= span style=3D'letter-spacing:-.45pt'> o que e como pensa.
Seguimos a exploração acerca desta fantasia, e nisso implicamos a Educação: está suposto a relação dos corpos no espaço de uma aula, bem como do corpo que se flexiona sobre a escrita da pesquisa. Na realidade, este texto ficciona t= al corpo, como a criação de um personagem: pesquisador, docente, escritor. Na ficçã= o, este corpo realiza tal texto, produzindo realidades. Logo, consideramos que nada descobrimos, mas inventamos, conforme a sentença de Wittgenstein retomada por Flusser (1966,= span> 1), que afirma:
Uma profunda
modificação do nosso conceito de realidade e
ficção, da descoberta e invenção, do dado e do<=
/span> posto. Com efeito, desvenda a perda de uma fé em realidade da=
da e
descobrível. E mostra a nossa situação como
ficção inventada e posta por nós.
Neste contexto, o pensamento é condição para projetar-nos, via uma exploração sobre a ideia de um CorPo, no seguinte sentido:
O
pensamento (a frase) não é simplesmente um entre
os projetos
pelos quais nos projetamos contra o nosso estarmos jogados para cá; o pensamento
é, com efeito, o nosso projeto-mestre, o padrão de acordo com=
o qual
todos os demais projetos secundários se realizam (Flusser, 2011, 55)=
.
1.2 Notas sobre corpos =
potenciais do=
/no
pensamento
É preciso ressalvar: potencial não é compreendido
como sinônimo de potência, mas enquanto próprio da
potência, como para empreender velocidades, e os potenciais se
manifestam de variados modos; corp=
o que
necessita ser flexível =
para
cambiar as rotas, para compor e decompor sempre que necessário; prec=
isa
deixar-se, esquecer-se ativamen=
te, para
se refazer: corpo que é, sobretudo, processo, a ele nunca se chega, =
mas sempre se
Então, trata-se do CorPo como possibilidades de composição do corpo –ou de corpos–, de um certo estado de presença, de uma postura (ou impostura) via jogos compreendidos como exercícios: é um modo de pensar, de estar, de agir, de se modular. Um corpo que nota, que anota, que se compõe na relação com o meio, e que está a derivar. Ressalta-se, com Simondon (2020, 16), a relação indivíduo-meio:<=
/p>
Assim, o indiví=
duo
seria apreendido como uma realidade relativa, uma certa fase do ser que
supõe, antes dela, uma realidade pré-individu=
al,
e que não existe completamente só, mesmo depois da
individuação, pois
a individua&ccedi=
l;ão não esgota de uma única
vez os potenciais da realidade pré-individual
e, além disso, o que ela faz aparecer
é não só o indivíduo, mas o par indivíduo-meio.
Dessa maneira,=
o indivíduo é relativo em dois sentidos: porque ele não é todo o ser e porque resulta de um est=
ado
do ser no qual ele não existia nem como indivíduo, nem como princípio de individua&c=
cedil;ão.
Um CorPo cria as condições de possibilidade para que a criação se dê, entendendo essa cria&ccedi=
l;ão como
composição. Esse criar condições apresenta-se s=
obre
a imagem do jogo, da criação que emerge entre os desvios impostos nas restrições do jogar; isto é, desde uma autoimposição ao desequilíbrio, em uma
autoexperimentação que se
expressa como autoficç&ati=
lde;o.
Um CorPo,
então, é esse
O CorPo só é capaz disso porque tem em vista as
matérias em movimento, energias, e nisso suas possibilidades vitais se ampliam: e ele s&oac=
ute;
percebe na medida em que aguça sua sensibilidade. Logo, passa a compor em um acordo discordante entre sensibilidade (compreendida via Vontade de Potência) e razão. Todavia, não se opõe aos estratos, ao sujeito, à linguagem, às instituições, experimentando com prudência para que as
linhas de fuga não se transformem em linha de morte: é como u=
ma
ideia- =
movimento,
Dado as pressuposições=
span> apresentadas até aqui, uma problemática nos confronta: como desviar da representação (Deleuze, 1988), ou, noutros termos, das condutas restauradas (Carlson, 2010), para que o corpo venha sempre a diferir de si mesmo, derivando, via improvisaçõe=
s, tornando-se o que se é em acessos intermitentes de
individuação (Simondon, 2020)? A partir desta inflexão,
onde se toma a autoficçã=
;o deste corpo, enquanto
autor, como uma performance nos espaços que ocupa, com ênfase à
aula e à pesquisa-texto, adentramos na
Assim posto, passamos <= span style=3D'letter-spacing:-.4pt'>a desdobrar o texto em onze pontos, numa escrita fragmentária que intenta melhor esboçar a imagem deste CorPo, mas, sobretudo, um modo de este mover-se, de se compor nos encontros nos quais se dispõe. Pontos estes que expõe, tanto quanto for possível, problematizações, proposiçõ= es e paradoxos. Há, portanto, uma relação entre texto e rea= l, como entre ficção e realidade, dimensionado como performatividade, conforme a assertiva de Klinger (2006, 58):=
O texto a auto-ficção como uma forma de performance.
Naquela época, minha vida e meu estilo de trabalho
estavam sobre forte influência da filosofia taoísta. Buscava intensificar mi=
nha
percepção intuitiva e reconhecer ‘os padrões do
taoísmo’; praticava a arte do wu wei, o
não agir que vai ‘contra o feitio das coisas’,
esperando pelo momento certo sem forçar nada. A metáfora
de Castañeda, do centímetro cúbico de chance que despo=
nta
de tempos em tempos e é apanhado
pelo ‘guerreiro’=
; que
leva uma vida disciplinada e que aguçou sua<=
span
style=3D'letter-spacing:-.15pt'> intuição,
estava sempre presente em minha mente
(Capra, 2009, 75).
Há uma ambiguidade= na nossa busca, pois nossa e ao mesmo tempo impessoal; não objetivar, mesmo assim definir, provisoriamente; liberar-se da ação pelo movimento: o guerreiro que se confunde com a ação, o gesto que parte do exterior. Nos mantemos à espreita de algo, pela digressão expressa em texto, pois, a linguagem “é apenas rumor informe e jorro, sua força está na dissimulação: porque ela faz apenas uma única e mesma coisa com a erosão do tempo: ela é esquecimento sem profundidade = e vazio transparente da espera” (Foucault, 2001, 241). Uma operação sobre o provisório; operação conceitual, definição de pontos sobre uma linha sempre porvir; intensidade do tempo presente como um passado- futuro, onde se vive na intensidade do aqui-agora,= de um Erewhon:
O empirismo é
o misticismo do conceito e seu matematismo. Ele trata o conceito como o objeto de um encontro, como um aqui-agora, ou melhor, como =
um
Erewhon, de onde saem inesgotáveis os ‘aqui’ e os
‘agora’ sempre novos, diversamente distribuídos. S&o=
acute;
o empirista pode dizer: os conceitos são as próprias coisas, =
mas as coisas em estado livre e selvagem, para além dos ‘predicados antropológicos’. Eu faço, refaço e desfaço meus conceitos
a partir de um horizonte móvel, de um centro sempre descentrado, de =
uma
periferia sempre desloca=
da que os repete e diferencia (Deleuze, 1988,<=
span
style=3D'letter-spacing:-.3pt'> 17).
2.1
=
Proposição primeira: =
o CorPo =
é =
um corpo =
em=
=
estado de =
improviso
Improviso
e improvisação têm aqui sentidos diferentes, tal qual potencial e potência. Por improviso entendemos uma condição de espírito,
o corpo
em estado
de espera,
sobre o qual opera o
esquecimento como condiç&atil=
de;o
para acontecimentos possíveis (Foucault, 2001). Já a
improvisação seria um estado de devir, uma ação, efetuação: estado de improviso ativo, ao mover-se entre e com os corpos; há uma remissão, portanto, para a noção de individuação, conforme proposta por Simondon (2020), na medida em que
a improvisação defasa o ser, que não pode ter pleno
controle do que se tornará em nova fase individualizada.=
Sendo assim, o potencial é um estado corporal: uma capacidade de se manter ativo, disposto; um corpo que se encontra em prontidão, como equilíbrio instável: estado de espera para se pôr em movimento, a partir das afecções alegres (do que lhe afeta nos espaços cotidianos) e do pré-individual (intensidade latente da natureza presente nos corpos, força de mutação); e assim, em improvisação e c= omposição de si, efetuada junto aos corpos, aumentar sua potência de existir. Trata-se de uma imobilidade sempre prestes a ser quebrada, de um corpo pronto a se precipitar em prol de encontros alegres; ou, justamente, a partir deles: metaestabilidade ativada= no jogo das relações, permutação indivíduo-meio. Com efeito, o estado de improviso significa se colocar no limite da estabilidade, descentrado, para, por essa via, produzir o devir, entendido com acesso de individuação e nova composição dos/nos corpos.
2.2&=
nbsp;
=
Proposição segunda: manter-se inteiro
Quando o ser se coloca a serviço de algo externo a si, se fragmenta. O bem é assim entendido como o bem<= span style=3D'letter-spacing:-.45pt'> do outro, de uma causa, qualquer que seja: é o mal então o que mantém nossa integrid= ade, enquanto disposto aos possíveis, ao porvir (Bataille, 2017).
Há= , portanto, crueldade neste corpo, que precisa negar a ação sobre o tempo, enquanto gesto definido por uma causa, em proveito da possibilidade de agir a qualquer tempo, em qualquer instante: corpo que precisa negar o ̶= 0;bem maior”, o “bem dos outros”, e afirmar o trágico da existência, do que não possui sentido dado, mas criado pela ação de um corpo potencial.
O
importante é conceber=
a vida, cada
individualidade de vida, não
como uma forma, ou um
desenvolvimento de
forma, mas como uma relação
complexa entre velocidades=
diferenciais, entre abrandamento e aceleração de partículas.
Uma composição de velocidades e de lentidões num plano=
de
imanência [...]. É pela velocidade e lentidão que a=
gente
desliza entre as coisas, que a gente conjuga com outra coisa: a gente nunca
começa, nunca se recomeça tudo novamente, a g=
ente
desliza por entre, se introduz no meio, abraça-se ou se impõe=
ritmos (Deleuze, 2002, 128).<=
span
lang=3DPT style=3D'font-size:7.5pt;mso-bidi-font-size:11.0pt;line-height:10=
2%'>
É<=
span
style=3D'letter-spacing:-.35pt'> preciso
distinguir de que corpo se trata, e de como ele se relaciona com os outros
corpos; na perspectiva aqui adotada, portanto, de como funciona, de que modo se coloca em jogo e neste jogar se c=
ompõe;
isto é, o que o leva, enquanto jogador (e ao mesmo tempo maté=
ria
do/no jogar), a determinados =
span>encontros e não outros;
e como se dá essa composição.
3.1
=
Proposição terceira: um corpo que quer perseverar e nisso se compõe
Todo ser, segundo Espinosa, quer perseverar em si (Deleuze, 2002). Trata-se de pensar num corpo entendido como bom, projetando-o como este que faz de si boas composições. Um corpo que produz condições= para bons encontros, que está à espreita do que lhe afeta, de afecções<= span lang=3DPT style=3D'color:#231F20;letter-spacing:-.15pt'> alegres. Cabe ponderar que, apesar da ênfase dada neste texto, por vezes, ao corpo humano, considera-se toda a extensão de corpos humanos e não humanos, e que o jogo se dá nesta tensão dos (des)encontros e (de)composições<= /span> entre corpos diversos.
3.2
=
Proposição quarta: disposição aos
encontros
Considera-se o espaço (qualquer que seja) ocupado por forças ativas e reativas, que agem sobre os corpos e que, de todo modo, o compõe (enquanto o corpo também é espaço). Sobre essas forças, Deleuze afirma (1976, 22):
Sem dúvida &eac=
ute;
mais difícil caracterizar essas forças ativas. Por natureza e=
las
escapam a consciência: ‘a grande atividade princ=
ipal
é inconsciente’. A consciência exprime apenas a
relação de certas forças reativas com as forças ativas que as dominam. A consciên=
cia
é essencialmente reativa; por isso não sabemos o que um corpo pode, de que atividade é capaz. E o que dizemos da consciência devemos dizê-lo também da memória e do hábito.<=
/span> Mais ainda:
devemos dizê-lo ainda da nutriç&a=
tilde;o, da reprodução, da conservação,
da adaptaç&=
atilde;o [...].
Apropriar-se, apoderar=
-se,
subjugar, dominar são os caracteres da força ativa. Apropriar=
-se
quer dizer impor formas, criar formas
explorando circunst&aci=
rc;ncias.
O CorPo afirma sua diferença no jogo com essas forças, busca coadunar-se com as forças ativas, aumentar seu grau de potência de agir (seu potencial). Corpo que se põe em jogo, cria procedimentos, se exercita numa autoexperimentação, tal qual propôs Nietzsche (Safransk= i, 1998).
3.3&=
nbsp;
=
Proposição quinta: desviar em direção =
aos possív=
eis pela=
i> =
via =
do=
imprová=
;vel
Como modo de não se inserir no tempo enquanto corpo-função, gesto efetivado em um fim (não direcionado à uma causa= , um fim externo a si), é preciso desviar da recognição, do retorno ao Mesmo (Deleuz= e, 1988). Estamos sob o céu do acaso, onde impera o jogo, onde a chance se apresenta como o sempre possível, improvável, inocente, não buscado, ainda assim, expectado: um outro intensivo e provis&oa= cute;rio a nos esperar. A via para essa individuação, como um devir-ou= tro, é a disposição ao acaso, e de afirmá-lo atravé= s do jogo, em sua dimensão trágica (Nietzsche, 2005). Novamente, c= om Deleuze (1976, 19):
Outra
maneira de colocar a grande
equação: querer=3Dcriar. [...] Trágica é a afirmação, porque afirma
o acaso
e a necessidade do acaso; porque afirma o devi=
r e o
ser do devir, porque afirma o múltiplo e o um do múltiplo. Trágico é o lance de d=
ados.
3.4&=
nbsp;
=
Proposição sexta: entre os =
estratos e o<=
/span> =
devir, afirma=
r o =
jogo entre Ap=
olo =
e Dioní=
;sio
Estamos então entre “dois corpos” no corpo: o cor=
po
estratificado do sujeito e o corpo intensivo, fluxos do Corpo sem
Órgãos-CsO (Deleuze &
Guattari, 1996). Para esta relação
associamos, ao segundo, o devir
trágico dionisíaco, como forças que atravessam e
compõe o CsO; e ao primeiro, as aparências que
se manifestam,
que se
constituem para amparar a vida: imagens
apolínias, como estratos
que nos possibilitam
partilhar uma vida em
sociedade, e não nos precipitar
ao abismo.
Como afirmam Deleuze e Guattari (1996, 19):
Nós não
paramos de ser estratificados. Mas o que é este nós, que
não sou eu, posto que o sujeito não menos do que o organismo pertence=
a um estrato e dele depende?
Respondemos agora: é o CsO, é
ele a realidade glacial
sobre o qual vão se formar estes aluviões,
sedimentações, coagulação, dobramentos e assentamentos que compõem um organismo –
e uma significação e um sujeito.
A estas imagens ainda associamos a relação entre instintos e instituições, sendo que as instituições possibilitam <=
/span>um modo de condução das energias que pulsam nos corpos, fluxos e contenções nos estratos que formam as instituiç&otil=
de;es
e nisso sujeitos: paixões dos corpos que passam a ser conduzidas pelas práticas instituí=
;das
(Deleuze, 2006).
Sobre a imagem de Apolo, conforme nos apresenta Nietzsche (2005), representamos os estratos, a linguagem, o sujeito, o gesto ca= lcado no tempo, a ação objetivada, a imagem sempre a ser formada co= mo representação do<= /span> ideal, do belo. E ainda que Dionísio nos reapresente essa força sempre pulsando ante o subsolo sobre o qual se representam as aparências apolíneas, uma vez que não se trata de oposição, mas de complementariedade Apolo-Dionísio, a força trágica ten= de a ser demasiadamente contida pelos estratos; ou seja, as instituições a todo tempo reafirmam o sujeito, buscando interpretações,
identifi= cações, significações e condução<= span lang=3DPT style=3D'color:#231F20;letter-spacing:-.15pt'> das operações= dos/nos corpos. É nesse sentido que é convocada por est= e CorPo a potência da dimensã= ;o trágica da existên= cia:
Apolo é=
o deus da forma, da claridade, do contorno nítido, do sonho iluminado e, sobretudo, da individualidade e da razão. [...]e representação, coletividade e
individualidade (Safranski, 1998, 94; tradução nossa).=
O CorPo, então, dispõe-se em um entre, reafirma as tensões, experimenta-se com prudência para que o corpo = não se restrinja aos estratos, não se defina por identidades fixas, e não sesse assim seus fluxos; e, por outro lado, não seja demasiado vertiginoso na produção de linhas de fuga, não produza linhas s= uicidas (Deleuze & Guattari, 1996). O CorPo é experimentador: coloca-se = em movimento através do jogo; repetimos: é ao mesmo tempo jogador e, paradoxalmente, espaço de jogo e matéria em movimento; é um corpo cujo as perfor= mances se propõem a desviar das condutas que lhe diminuem a alegria de viver.
Se =
span>é verdade
que, no sentido em que se costuma
entendê-lo, o homem de ação não pode<=
span
style=3D'letter-spacing:-.45pt'> ser um homem inteiro, o homem inteiro guarda uma possibil=
idade
de agir [...]. É preciso distinguir de um lado o mundo dos
Entendemos que manter-se inteiro, como nos apresenta Bataille (2017), seria impossível, ou só poderia ser alcan&cced= il;ado por breves instantes de tempo, que o autor afirma como o ápice, seguido do declínio inevitável. Ademais, se o ser fosse inteiro, não haveria sentido no que propomos enquanto um compor- se. É só por est= armos variando nossa constituição a todo o momento que o jogo passa= a ter motivo e sentidos. De<= /span> todo modo, a imagem do “homem íntegro” detém força enquanto liberdade daquele que não se fragmenta ao se identificar com uma causa de antemão e, sobretudo, indefinidamente, = numa marcha eterna ao horizonte inalcançável. Nossa integridade se afirma pela liberdade compreendida nas possibilidades de escolher nossas relações, como seres sociais; em processos, por essa via, educacionais: de afirmar o que é possível fazer hoje, em quais agenciamentos posso me inserir, por quais causas quero combater, e ao lado de quem. Como nos propõe Guattari (2012, <= span style=3D'letter-spacing:-.3pt'>55): “os indivíduos devem se tornar ao mesmo tempo solidários e cada vez mais diferentes”.
Trata-se de almejar a integridade enquanto inteireza de quem se move como um nômade (Deleuze & = Guattari, 1997), para o qual os pontos não subjugam as linhas: de um agenciamento a outro se ressignificar, recompondo-se ao travar conta= to com forças diversas, ao ativar-se nos processos vitais aos quais decide não ficar alheio (há nisso uma escolha ética); mas, de todo modo, nos quais não se reduz como uma função.=
Do jogo humano ao jogo ideal. Há um primeiro jogo possível, o humano, que divide o acaso, que busca uma meta; jogo de probabilidades, que identifica os meios e resultados, opera pela recognição.
Há= ;, também, outro jogo, o ideal, que reafirma o acaso (Deleuze, 2007). Estamos numa variaçã= ;o entre esses jogos, ao produzir, então, um desviar pela razão (em certa medida calculado), para pôr-se em jogo, v= ia descentramento e consequente<= span style=3D'letter-spacing:-.45pt'> desequilíbrio.
Nossa hipótese é a de que o jogo autoimposto numa autoexperimentaçã=
;o (como numa escrita da pesquisa, ou compartilhado,=
como
parte de uma aula) é um modo de produzir fissuras no solo dos=
estratos. Que é a
razão que cria o jogo,
mas ela
cede espaço para a intuição,
para a sensação=
,
para uma composi&ccedi=
l;ão que só pode resultar num devir-outro ao operar via esquecimento ativo,
ao pôr-se em improvisação. Um jogo
que se
projeta no pensamento
Aqui nos apropriamos da ideia de Vontade de Potência (Nietzsche, 2019), embora<= span style=3D'letter-spacing:-.45pt'> o desvio que Bataille (2017) propõe para Vontade de Chance nos pareça apropriado, por apresentar um corpo que não busca a potência, no seu sentido de aquisição e detenção de um poder, mas a chance, enquanto possibilidade de um potencializar-se, enquanto movimento e não-permanência. = De todo modo, nos interessa a ideia do acordo discordante de Deleuze, para o qual o conceito de Vontade de Potência tem importância; vejam= os, com Machado (2009, 102):
Os conceitos nietzschianos de vontade de potência e eterno retorno são, em últ= ima análise, os principais nomes, entre os vários utilizados por Deleuze, para os conceitos de diferença e repetição. Efetivamente, quando= analisamos sua ‘doutrina das faculdades’, veremos que, para ele, o eterno retorno é o pensamento, o pensamento mais elevado, a forma extrema, enquanto a vontade de potên= cia é a sensibilidade, a sensibilidade das forças, a sensibilidade diferencial. Expondo a tese central da filosofia d= eleuziana de um acordo discordante entre sensibilidade e pensamento a partir dos conceitos de vontade de potência e eterno retorno.
O corpo, portanto, é compreendido como meio de
individuação, que se torna potencial enquanto um meio hábil<=
/span> (potência do pré-individual=
)
para individuar-se, dobrando-=
se
com seu
entorno, constituindo o par indivíduo-meio (e por isso importa os espaços que ocupa, nos quais se insere, pois com e neles se constitui).
Para tanto cria-se
Trata-se de uma apropriação da sensível, que é posteriormente compreendida pela razão, num acordo discordante. Tal compreensão se dá num ponto vital, de difícil precisão: no instante em que, tomado por essas forças q= ue o modulam, torna-se indivíduo em nova fase, assim que findado o proces= so de individuação, e = antes do novo acesso ao devir. O mesmo ocorre acerca da nossa percepção: é como
consider=
ar que um pensamento só pode ser pensado, enquanto ideia, quando passa a, de certa forma, individuar-se num pensamento-corpo (sempre composto =
de diversas
partes). O mesmo ocorre com
os
objetos, com as imagens, com qualquer coisa que precisa tomar forma como individuo para ser assim percebido.
Operações que dizem respeito à estabilidade e
desestabilização. Ambos os processos, um s=
ensível (sensação e intuição) –movimentos excêntricos, =
span>de envolvimento–, e outro racional
–movimentos concêntricos, definições–, são imbricados e se dão numa apropriação poética do e no real, onde as faculdades entram em ação. Logo, a intuição que se insinua no corpo coloca-o a pensar, e é então inicia a
performance inventiva, autoficção, sobre a
intervenção do intelecto.
Consi= dera-se que o corpo, como espaço e meio de individuação, não pode ter domínio pleno sobre
o processo, porquanto é apanhado pelas forças do Fora, e do próprio fora que habita o dentro: ou seja,
o= ser= é tomado como espaço de = jogo-composição-desdobramento-= de-si com forças internas-externas. É um duplo jogo, como no paralelismo espinosista entre matéria e pensamento. Somos matéria num complexo jogo existencial (energético, bioq= uímico, espiritual) e, sem embargo, somos pensamento que se pensa enquanto as coisas se processam em si. CorPo que tenta, assim, captar o que lhe passa, notando e anotando, desde a percepção das forças que o atravessam, nos encontros em que pode ancorar-se para aumentar sua vitalidade, seu potencial. Apropriar-se significa, ao mesmo tempo reinventar-se como existência poética e autoficção. Para isso, é preciso compreender-se no limite do controle, em seu permanente descentramento; deixar que as coisas cheguem de improviso; o improviso das coisas, ser-se uma coisa:
Trata-se de, com cuida=
do e
operações especiais, colocar-se a disposição das
emissões daquilo que se estuda; é preciso lavrar contatos=
numa ambiência de reciprocidades<=
/span> de aberturas
forçadas, tendo-se em vista que estas são violenta ou suavemente impostas pelas
ações dos díspares (Orlandi, 2003, 93).
Para conc=
luir,
propomos, em síntese, o entendimento de si como um espaço de
estudo em experimentação; por isso, de
autoexperimentações. Destituir, para isso, a compreensã=
;o
do ser como interioridade e centramento
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Reseña curricular
Diego Winck Esteves é Doutorando e
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do=
Sul (UFRGS), na linha de
pesquisa “Escrileituras, Ar=
tistagens, Variações”.
Integrante do “AtEdPo-Ateli&e=
circ;
de Educação
Potencial” e do Grupo
de Pesquisa “Poïein: microscopias, educação,
imanência”. Graduado em Educação Física pe=
la
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e aluno do curso de
Licenciatura em História UFPel/UAB. Fundador em 2009 do
NECITRA (Núcleo de Experimentações Cênicas e Transversalidades) e em 2010 da “Canto-Cultura e Arte”.